i

emanoel araujo2O Museu é um espaço dedicado ao conhecimento e, dependendo das suas especificidades será um centro vivo de memória e história. Essa é a tipologia desse Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira, já que no Brasil ficam claras as omissões de todas as ordens, causa principal do apagão cultural constituído no país debaixo da hipócrita democracia racial. Uma instituição insistente e perversa, que ainda prevalece por falta de políticas públicas e ações afirmativas para por fim na descriminação racial, racismo e preconceito social e de todas as formas que impedem avanços contra os Afro-descendentes.

O Museu é um espaço dedicado ao conhecimento e, dependendo das suas especificidades será um centro vivo de memória e história. Essa é a tipologia desse Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira, já que no Brasil ficam claras as omissões de todas as ordens, causa principal do apagão cultural constituído no país debaixo da hipócrita democracia racial. Uma instituição insistente e perversa, que ainda prevalece por falta de políticas públicas e ações afirmativas para por fim na descriminação racial, racismo e preconceito social e de todas as formas que impedem avanços contra os Afro-descendentes.

O Museu Nacional da Cultura Afro Brasileira foi criado na intenção de tornar públicas as ações desenvolvidas nas vertentes propostas, como detentor do conhecimento histórico e sócio-cultural e de outras atividades que possam contribuir para o conhecimento dessa história, da memória dos povos que estão nas raízes da formação do povo brasileiro.

Alguns desafios da criação, na Bahia, desse museu, por estar no berço da dita “africanidade” criada pelos estereótipos, formados pelo folclore e pelo abusos dos símbolos sagrados e profanos afros, que seguramente perturbarão a formação do seu acervo material, razão pela qual deve existir um museu. Portanto, todo cuidado será necessário para que este espaço não se torne um gabinete de curiosidades, devido a certo caráter que rege as instituições na Bahia.

Desde muito cedo, certo desejo democrático norteou as ações do seu início, com pessoas pouco experientes e confusas, a causa desse desconforto partia principalmente da falta de um acervo que de pronto norteasse sua criação, um fio condutor que logo estabelecesse vínculos com as suas várias vertentes.

É a escravidão, que na diáspora, força o contato e o intercâmbio entre membros de diferentes nações africanas e produz as mais diversas formas de assimilação entre suas culturas e as de seus senhores, bem como de resistência à denominação que a escravidão lhes impõe.

Como um Museu Nacional da Cultura Afro brasileira precisa contemplar não só o que de africano ainda existe entre nós, mas o que foi aqui apreendido, caldeado e transformado pelas mãos e pela alma do negro, salvaguardando ainda o legado dos nossos artistas – e foram muitos, anônimos e reconhecidos, os que, nesse processo de miscigenação étnica, a mestiçagem cultural, contribuiu para a originalidade de nossa brasilidade.

Portanto, esse Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira tem, pois como missão precípua a desconstrução de estereótipos, de imagens deturpadas e de expressões ambíguas sobre personagens e fatos históricos relativos ao negro, que fazem pairar sobre eles obscuras lendas que no imaginário perverso, que ainda hoje inspiram e agem silenciosamente sobre nossas cabeças como uma guilhotina, prestes a entrar em ação a cada vez que se vislumbra alguma conquista que represente mudança ou reconhecimento da verdadeira contribuição do negro a cultura Brasileira.

No bojo da formação e da constituição desse acervo, o Museu precisa de obras que possam unir historia, memória, cultura e contemporaneidade afro brasileira e, se possível, afro atlântica e africana. Entrelaçando, assim, essas vertentes num grande e poderoso discurso para narrar essa heróica saga da marca deixada pela cruel saga dos milhões de africanos que cruzaram o Oceano Atlântico no porão dos navios negreiros e que, apesar da trágica epopéia da escravidão, deixou marcas indeléveis por séculos ate os nossos dias; incluindo todas as contribuições possíveis. Os legados culturais, de usos e costumes, as revoltas, Malês, a Sabinada e a famosa Batalha da Chibata, do marinheiro João Candido; as participações nas guerras contra os Holandeses, do Paraguai, na Independência da Bahia, e a Legião Negra da Revolução de 32 em São Paulo

Um Museu que reflita uma herança na qual, como num espelho, o jovem negro possa se reconhecer, reforçando a auto-estima de uma população excluída e com a identidade estilhaçada que busca na reconstrução da auto-estima a força para vencer os obstáculos à sua inclusão numa sociedade cujos fundamentos seus ancestrais nos legaram.

O museu Nacional da Cultura Afro Brasileira tem mesmo um grande desafio de contemplar essa história brasileira de norte ao sul de leste ao oeste do país.

Um centro de referência da memória negra que reverencie a tradição que os mais velhos souberam guardar como os cultos religiosos, mas faça reconhecer os heróis anônimos e os negros ilustres na esfera das ciências, das letras e artes no campo erudito ou popular.

Emanuel Araújo
Escultor, Desenhista, Gravador, Cenógrafo, Pintor, Curador e Museólogo

X